terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Política e Rock'n'Roll

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Quando era adolescente, achava Michael Jackson um lixo. A banda Yahoo, então, tinha que ser pendurada de cabeça para baixo. Pelas tetas. Como diz o grande filósofo da Mooca Orestes Sylvio. Obviamente que com o passar do tempo as opiniões mudam e eu percebi que existia música por trás destes dois exemplos. Sem atitude, mas era música.

Jânio Quadros (imagem da internet)

Digo isso porque hoje em dia não existe mais político Rock'n'Roll. Acho que o último foi Jânio Quadros. E já faz quase cinquenta anos desde sua penúltima incursão política. A última foi em 1985.

Em um comício em São Miguel Paulista, depois de ter comido uma lauta feijoada e ter bebido todos os acompanhamentos, dormiu feito um bebê. Às seis horas, horário do comício, subiu ao palanque e, depois de uns cinco minutos, pediu licença ao povo e tirou uma banana do bolso. Disse que não tinha comido durante o dia. O povo veio abaixo com seu solo de guitarra.

Jânio era uma figura. Ex-professor de português do Dante Alighieri, fazia construções Barrocas para frases cotidiano.


Em 1985 elegeu-se prefeito de São Paulo, sem comparecer a nenhum debate pela televisão. As pessoas gostam de atitude e não de conteúdo. Vinte e poucos anos antes, tal qual um rockstar que manda a platéia às favas, mandou o povo brasileiro praquele lugar, encheu a lata, ficou bem loco, e saiu de rolê.

                                        Michael Jackson
                                       (imagem da internet)

Isso é atitude. Isso é rock'n'roll.

César Benjamin escreveu um artigo mais do que rock'n'roll, escreveu um artigo hardcore.
Em 27 de novembro de 2009 ele mostrou o que um político, cantando bravata ou não, é capaz de pensar a respeito de nossas escolhas, de nossas lutas e de nossos caminhos.

Srº Benjamin, como brasileiro, mais ou menos ignorante, peça desculpas ao Senhor. A sua luta, a sua prisão e a sua adolescência não se comparam a uma boceta em que guardamos nossas moedas do movimento sindical. A sua história é maior do que isso.

Não queira exigir de alguém uma postura rock'n'roll, quando o que ela pode nos dar é uma atitude Po-Pê-Rô: sem letra, vazia, ignorante, barulhenta, modista, fútil...

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Eduardo de Febo é Professor e torce para o Juventus

sábado, 28 de novembro de 2009

Coisas da Mooca: Ratão

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Moro em uma avenida na Mooca. Meu apartamento está suscetível a vários sons que vêm da rua. Nos últimos meses - além das buzinas, aceleradas, gritos e trovoadas - um me chamou a atenção. Um nome: Ratão.
As pessoas passam pela avenida e gritam esse nome para um pedinte, um mendigo, enfim... Um lascado.

Muitos riem, acham graça, tiram sarro.

Porém o velho não gosta. Quando ouve esse nome, algo em sua cabeça dispara uma fúria absurda, e com razão. Para ele esse nome tem o mesmo peso de puta, negão, viado etc.

E ele reage, dizendo palavrões que me fazem corar. Até aí, tudo bem. Não sou santo, nem romancista russo. O problema é que tenho duas filhas e a mais nova tem sete anos. Ela não entende por que discriminam aquele homem, nem eu resolvi explicar. Decidi agir. Não porque sou bom, mas para poupar os ouvidos da menina.

Tentei explicar aos funcionários do restaurante de comida japonesa, que fica ao lado do meu prédio e que não tem nem um japonês, que aquilo não era legal. Foi em vão. Tentei explicar ao vigia banguelo do comércio em frente e… foi em vão. Tentei explicar aos rapazes do valet do outro restaurante da esquina... E adivinhem??! Perguntaram quem era esse tal de Envão.


Sou guardião do Ratão no quadrilátero em que moro. Nem sei seu nome. Eu sou o cara chato. O que não gosta de se divertir. O lascado que não tira sarro de um lascado.


Enquanto isso, o banco do outro lado da rua fatura bilhões por ano. E todo mundo o chama de Banco. E ninguém chama o Ratão de ser humano.

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Eduardo de Febo é bobo e se preocupa com os lascados.