sábado, 28 de novembro de 2009

Coisas da Mooca: Ratão

2 comentários

Moro em uma avenida na Mooca. Meu apartamento está suscetível a vários sons que vêm da rua. Nos últimos meses - além das buzinas, aceleradas, gritos e trovoadas - um me chamou a atenção. Um nome: Ratão.
As pessoas passam pela avenida e gritam esse nome para um pedinte, um mendigo, enfim... Um lascado.

Muitos riem, acham graça, tiram sarro.

Porém o velho não gosta. Quando ouve esse nome, algo em sua cabeça dispara uma fúria absurda, e com razão. Para ele esse nome tem o mesmo peso de puta, negão, viado etc.

E ele reage, dizendo palavrões que me fazem corar. Até aí, tudo bem. Não sou santo, nem romancista russo. O problema é que tenho duas filhas e a mais nova tem sete anos. Ela não entende por que discriminam aquele homem, nem eu resolvi explicar. Decidi agir. Não porque sou bom, mas para poupar os ouvidos da menina.

Tentei explicar aos funcionários do restaurante de comida japonesa, que fica ao lado do meu prédio e que não tem nem um japonês, que aquilo não era legal. Foi em vão. Tentei explicar ao vigia banguelo do comércio em frente e… foi em vão. Tentei explicar aos rapazes do valet do outro restaurante da esquina... E adivinhem??! Perguntaram quem era esse tal de Envão.


Sou guardião do Ratão no quadrilátero em que moro. Nem sei seu nome. Eu sou o cara chato. O que não gosta de se divertir. O lascado que não tira sarro de um lascado.


Enquanto isso, o banco do outro lado da rua fatura bilhões por ano. E todo mundo o chama de Banco. E ninguém chama o Ratão de ser humano.

Home Plantão




Eduardo de Febo é bobo e se preocupa com os lascados.





2 comentários: